Parecia uma noite sossegada. Mas só parecia. Vindos do nada, ouvem-se gritos de dor. Corremos todos para ver o que se passava. A minha santa mãe gritava que lhe tinha entrado um bicho num ouvido.
Com a progenitora aos berros, fui com ela para o hospital. É claro que não olhei para os limites de velocidade, mas a Brigada de Trânsito é como Deus, nosso senhor Jesus Cristo, está em toda a parte, e estava à minha espera no final de uma recta.
Parei, a minha mãe fechou a boquita e acabou com os gemidos e o policia começou com os procedimentos normais. Documento para aqui, seguro para ali e eu a explicar ao homem que só ía "um bocadinho" mais depressa porque ía com a minha mãe ao hospital, que era um caso urgente, etc, etc.
Cito agora a conversa entre o agente da BT e a minha mãe.
Ele: Então a senhora está doente?
Ela: Sr. polícia estava já mesmo a deitar-me e entrou-me um bicho no ouvido..
Ele: E doi-lhe muito, não é?
Ela: (recordo apenas que, minutos antes, gritava com dores) Doi um bocadinho, é assim como se tivesse aqui uma coisa sempre a incomodar...
Ele: A sua filha diz que tem que ir de urgência para o hospital porque a senhora está muito doente...
Ela: Ora bem, isto não é uma doença. Foi só um bicho que me entrou para o ouvido.
Na dúvida se maltrava a minha mãe, se insultava o policia ou se voltava a casa e deixava a mulher com o insecto no ouvido, o senhor agente da BT ajudou-me na indecisão e passou-me uma multa de 150 euros.
C0ntinuei a viagem até ao hospital, proibindo a senhora minha mãe de abrir a boca nem que fosse para respirar e dizendo-lhe que seria ELA a pagar a multa.
Já no hospital, confirmou-se a existência do bicharoco e a dificuldade em tirar o insecto do interior do canal auditivo.
Optaram então por afogar o bicho com soro fisiológico. De seguida, no INEM, a senhora minha mãe foi transferida para o hospital de S. João, no Porto, onde foi seriamente ponderada a hipótese de realizar uma cirurgia.
Um otorrino mais paciente, de aspirador na mão, consegui aspirar o ordinário do cadáver do reles insecto.
Voltamos para casa de manhã, depois de uma noite inesquecível.
A senhora minha mãe está de cama e eu estou a tentar trabalhar.
É calro que ainda tive que ouvir uma lição de moral sobre a forma educada e respeitosa como devemos tratar os senhores agentes da Brigada de Trânsito.
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