sexta-feira, 27 de março de 2009

Semântica

Uma coisa é falar de desemprego, escrever sobre a crise e trocar ideias sobre soluções.
Outra coisa, é o desemprego bater à porta da nossa casa e entrar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Puta de Crise

Para além dos sinais evidentes de uma situação de crise financeira, há aqueles mais disfarçados, camuflados, que vão surgindo aqui e ali.

Agora, os carrinhos, cadeirinhas e utensilios de bebés já não se dão aos amigos. Vendem-se.

Ora façam o favor de reparar nas páginas de anuncios dos jornais...

sábado, 14 de março de 2009

Como organizar uma manifestação

1º - Os preparativos

Não, ninguém pense que é na base do amadorismo que se fazem manifestações e protestos.
O ajuntamento popular, o alevantamento espontâneo, a "luta continua" e "em cada esquina uma amigo", estão absolutamente ultrapassados.
Primeiro sensibiliza-se o povo, fazem-se convites e apelos. Põe-se uma carrinha a percorrer caminhos e vielas, de altifalante avariado, a debitar frases tipo "grande concentração em Lisboa contra o governo de corruptos". E pronto tá lançado o mote.
Fazem-se as inscrições, a viagem é grátis e sempre se vai a Lisboa.
Marca-se o ponto de encontro, a camioneta chega. Primeiro entram os farneis e depois os manifestantes.
A cada um é entregue um papel com o número do autocarro em que viajam e alguns números de telemóveis, para o caso de alguém se perder.
A malta vai, para a fazer chichi e comer qualquer coisita, volta a embarcar na camioneta e espera aí Lisboa que já estamos quase a chegar.

2º - A manifestação propriamente dita

A camioneta estaciona a cinco quilómetros do inicio da manif o que não dá muito jeito à terceira idade mas, pronto, se tem que ser assim, a malta vai.
De papel com o número do autocarro e com os telemóveis na mão, é dada a primeira indicação.
Vão todos atrás deste pano, primeiro as mulheres e depois os homens porque assim não há maneira de ninguém se perder.
O pano, esse objecto fundamental para qualquer protesto, dirá algo tipo "emprego sim, desemprego não", "a luta continua, governo para a rua", "trabalhadores de Braga solidários com Setúbal" (ao contrário, também fica bem) ou até slogans mais suaves como "Ermesinde a concelho" ou "Palestina Livre".

3º - As palavras de ordem

Convém, neste ponto, fazer um aparte para dizer que, com 200 mil pessoas a desfilar, é impossível conseguir que todas gritem as mesmas palavras de ordem ao mesmo tempo.
Assim, enquanto no início da marcha, se gritava "a luta continua", a meio, dizia-se "assim não pode ser trabalhar sem receber" e no final "25 deAbril sempre, fascismo nunca mais".
"Sócrates escuta, os professores estão em luta", "Sócrates escuta, os reformados estão em luta", Sócrates escuta, os estudantes estão em luta" ou algo completamente diferente, tipo, "Sócrates escuta, os trabalhadores estão em luta", foram das frases mais ouvidas.
Um verdadeiro hino à poesia popular, à arte da rima e uma sentida homenagem a António Aleixo e até, porque não, a Manuel Alegre que escreveu "O fado dos contentores".

4º - O regresso

Ai o regresso. Que saudades que eu já tenho de ouvir o povo e de caminhar dez quilómetros.
A festa contnua na camioneta. Que nunca se cale o rádio e que ninguém tire os sapatos.
Depois da meia-noite, a malta está em casa. Contente. Pronta para outra. Embora considere que o Sócrates até e "jeitosinho", que a culpa da crise é "dos americanos" e que a Ferreira Leite, essa sim, "é um desastre".

sábado, 7 de março de 2009

Ufa!

Ufa! Estou cansada. Ser mulher, todos os dias, cansa!!!

quinta-feira, 5 de março de 2009

saldos


É em Faro, na Rua de Santo António.
E eu não resisti...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Bandeira



É verdade?

É mentira?

Talvez?

Escola da vida

Anda a uma gaja de formação em formação, de curso em curso para depois ir ao tribunal e perceber não sabe nada da vida.
A sério. Há toda uma semântica de linguagem, uma génese gramatical e um linguajar de cariz raro que só a vida nos pode ensinar.
Ontem, em frente ao tribunal onde Pinto da Costa e Carolina Salgado participaram num julgamento, aprendi mais em meia hora do que em 37 anos de vida.
Não com o Pinto da Costa, a quem o povo tratava por presidente e acarinhava.
Mas com a Carolina....
A senhora, que por acaso é da minha terra, foi presenteada com expressões de tal forma univocas que, por si só, mereciam uma tese de mestrado.
Aliás, já li teses de douturamento com menos interesse.
A bem dizer, "puta" foi o nome mais suave que lhe chamaram.
Desde "Vaca", "brochista", "Boia" (o feminino de boi), "Seba" (porca grande, velha e gorda), de tudo se ouviu.
Curiosamente, eram só mulheres as que atacavam Carolina. Uma delas deu-lhe um valente estalo não por causa de árbitros ou do FCP, mas sim porque ela, a Carolina, "se tinha metido debaixo do marido".
Importa dizer que a senhora que lhe assapou com uma valente lostra, pondera avançar com um processo contra Carolina Salgado por ela lhe ter "partido as unhas de gel".
Neste contexto, comigo em quase estado de choque, ainda tive tempo para ouvir uma senhora, bem posta, de salta alto e madeixas loiras, mandar a ex-companheira de Pinto da Costa ir "jogar à bola para dentro da cona da mãe dela".

Estou ainda a tentar perceber a dinâmica desta última afirmação e , sobretudo, entender como é que se pode jogar à bola dentro de uma coisa tão pequena.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Paixão

A paixão é algo que se mistura com o sangue e corre nas veias. Entre os glóbulos brancos e os vermelhos, existem também uns micro-seres, que nos fazem andar nas nuvens, ter conversas aparvalhadas, dar beijinhos nas mãos e no pescoço, dançar agarradinhos, fazer festinhas no cabelo e mandar mails ou mensagens que, em outras circunstâncias, seriam ridiculas.
A paixão tira-nos a fome e o sono. Muda-nos a linguagem. Começamos a usar os "inhos" e as "inhas", tipo amorzinho, queridinho e outros que tais.
A paixão é um êxtase, um estado semi-comatoso onde pouco nos interessa a não ser a pessoa por quem estamos apaixonados.
A paixão, ai a paixão, é ficarmos a olhar para o vazio, para o céu ou para os carros a passar e achar que estamos a ver a mais bela paisagem do mundo.
É dormir enroscadinhos. É ficar apaixonado pelo cheiro, pelo respirar e pelo piscar dos olhos da pessoa que amamos.
A paixão faz-nos cógegas na barriga e no coração.
Depois da paixão, vem o amor. Também ele belo, bom e bonito mas muito mais tranquilo.
Tenho um amigo que anda assim: com um formigueiro no corpo todo. A contar os dias.
A paixão é o melhor do mundo. Aproveita. Esquece os temores de que podes parecer ridiculo. Exagera. Inventa palavras. Faz um concurso a ver quem gosta mais de quem.
Não escondas o sorriso de quem viu passarinhos verdes e adorou.
Aproveita. Vive tudo a que tens direito. Não aceites nada pela metade. Hiberna se for preciso.
Não a deixes fugir. O mundo é vosso.
Aproveita e sê, muito, muito, feliz.